Na favela e no cárcere, a Música Salva

Cria da Mariquinha preso por dois anos e meio sem condenação, Di Juan retoma carreira com composições de projeto desenvolvido no Presídio Masculino de Florianópolis

Reportagem de Rodrigo Barbosa

Preso e polícia não se misturam: regra básica de qualquer presídio. “O detento nunca vai dizer ‘Deus te abençoe’ pro policial. O policial não vai chegar e falar também”. Num ambiente onde, dos dois lados, o objetivo é sobreviver a mais um dia igual a todos os outros, cada um sabe seu espaço. 

Mas houve um dia em que essa lógica quase se rompeu. Foi no Presídio Masculino da Agronômica, em Florianópolis.

No dia que a gente cantou a música, os polícia praticamente aplaudiu. O diretor do presídio, de braço cruzado assim, ó: ‘Eu só não posso bater palma’. Ficou todo mundo de cara”. Esta reportagem conta a história de um dos responsáveis por emocionar os corações dentro da farda.

Capa de jornal

No ritmo caliente: Di Juan mostra o reggaeton do Morro da Mariquinha”, anunciava a capa do jornal Hora de Santa Catarina do dia 19 de setembro de 2015. Abaixo, um jovem de boné e óculos escuros sorri acima da Ilha da Magia, escorado no corrimão do principal mirante do morro. 

Juan Gerson, 22 anos, já havia aparecido naquele jornal, com menos destaque, outras duas vezes naquele mesmo ano. Na terceira, foi escolhido para estrear a série “Talentos da Comunidade”, que apresentaria artistas das quebradas da região metropolitana de Florianópolis.

Di Juan, cria da Mariquinha, na capa do Jornal Hora de Santa Catarina, em setembro de 2015

Nove anos depois, ele mal se recordava de ter levado o nome de seu morro para todo o estado. “Olha só, eu nem lembrava que isso aqui tava junto. Aqui ó, quando eu saí na capa do jornal”. Desde que foi preso, luta para que as lembranças da cadeia não ocupem boa parte de sua memória. 

Mas Juan Gerson, um dia, conviveu com o sucesso. “Eu vou te falar: eu tinha uma vontade, uma fome, antes”… Três prêmios: Melhor Cantor, Artista Revelação e Melhor Clipe de 2015 pelo site Reggaeton Brasileiro. A ascensão aparentemente meteórica, na verdade, escondia a correria daquele jovem. 

Cantava desde os 9, quando, incentivado pela mãe, entrou para o coral infantil do Instituto Estadual de Educação – escola que fica aos pés do morro onde nasceu e cresceu. Aos 14, começou a trabalhar como menor aprendiz. Dois anos mais tarde, o primeiro emprego de carteira assinada. Também aos 16, o jovem começou a compor e gravar suas primeiras músicas. Quando percebeu, já tinha um álbum inteiro em mãos. Dali em diante, foram anos conciliando a música com o trabalho de vendedor em empresas como Massa Viva e Imperatriz.

Músico independente, Di Juan apostava num recurso para divulgar suas músicas e ajudar a se sustentar que, nos anos 2010, já parecia defasado. Nos intervalos do serviço, na Lagoa da Conceição, no Mercado Público ou na Avenida Beira-Mar Norte, ia de pessoa em pessoa oferecendo seus CDs.

 “Comecei vendendo CD a 5 pila, depois vendi a 10. Virei corretor de imóveis e aprendi a falar com o público. Então, eu comecei a vender o meu sonho, a última coisa que eu falava era o preço do CD. Comecei a vender o CD a 20 pila”. 

Além dos intervalos da jornada de trabalho, Juan também comercializava sua música aos sábados e domingos. Quando fazia sol na Ilha da Magia, faturava até R$600 por fim de semana. O título do disco levava o corre do jovem ao pé da letra: Arriscando Tudo Pra Fazer Acontecer.

Mas ele sonhava além. “Meti marcha, pai”. Em 2019, o cria da Mariquinha se mudou para a Rocinha, no Rio de Janeiro. “Copacabana lotada, eu tava vivendo o meu sonho, cara”! Abraçado pelos moradores da maior favela do Brasil, Di Juan define a passagem pela Cidade Maravilhosa como a melhor fase de sua vida. Em menos de um ano, vendeu mais de 5 mil CDs de mão em mão. No Rio, os R$600 de um fim de semana lucrativo em Floripa, vinham em um único dia comum.

O talento chamou a atenção do grupo de rap ConeCrew Diretoria, que fez sucesso com hits como Rainha da Pista e Chama os Mulekes na década passada. Mas o feat nunca chegou a acontecer. A pandemia de Covid-19 foi o grande divisor de águas da carreira de Di Juan e da vida de Juan Gerson, que retornou ao coração de Florianópolis. O cria da Mariquinha estava de volta para casa.

O retorno foi duro. Em poucos meses, Juan perdeu seu avô e viu avó e tia serem acamadas, ficando sob sua responsabilidade. A impossibilidade de vender CDs em outros locais da cidade fez com que Juan tentasse recorrer ao próprio território: não era incomum vê-lo caminhando pela Mariquinha com seus discos. Mas o pouco que conseguia era insuficiente para as despesas. Sem renda e cada vez mais restrito às paredes de casa, se entregaria à cocaína. 

Em maio de 2021, o mais forte dos golpes: o músico, réu primário, foi preso. Acusado de fazer parte de uma organização criminosa que atua no tráfico de drogas em sua comunidade, ele não foi julgado até hoje, mais de quatro anos depois – dos quais dois e meio foram vividos atrás das grades.

A cadeia

 “Lá dentro é tudo muito multiplicado. É muito forte os sentimentos, tá ligado? Tudo muito potencializado”. Di Juan chegou ao Presídio Masculino de Florianópolis prometendo aos demais detentos que gravaria música dentro daquele local de atmosfera pesada e silenciosa. Virou piada. Meses depois, viraria lenda.

Para isso, porém, contou com um empurrão do destino. Um de seus dois companheiros de cela veio a ser Gabriel Gallotti, o MC Pikiel, co-fundador da produtora Funk FC – que já produziu artistas de destaque na cena do funk, como MC Alysson, MC Juninho da 10 e o DJ Narru. Na mesma sintonia e com os sentimentos à flor da pele, os companheiros de cela levavam no máximo meia hora para criar uma música. Deixando o reggaeton de lado, Di Juan passou a compor pensando em batidas de funk.

Se pudesse voltar no tempo
Aproveitar os momentos
Se tivesse essa chance
Evitaria meus erros

Tudo é aprendizado
Pra ver quem é de verdade
Poucos ficaram do lado
Quando só restou saudade

Falta de oportunidade
Realidade dentro da favela
Não tem preço a liberdade
Eu sei que Deus tem um plano à nossa espera

Ó meu pai, perdoa
Esse filho pecador
Penso na coroa
Mó saudade que eu tô

As rimas da dupla são um relato visceral sobre a realidade vivida no presídio e nas periferias onde os dois cresceram. Até chegarem ao momento em que quase fizeram policiais os aplaudirem, tiveram os outros detentos como plateia. “Tinha um que era assassino mesmo, tá ligado? Fizemos ele chorar. Nós não, a música, né? As professoras também se emocionaram pra caramba”, lembra Di Juan.

Para além da música, Juan também se destacou nos estudos no período em que ficou preso. De dentro do presídio, aprendeu a ler em espanhol e foi aprovado no vestibular de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) duas vezes. Na primeira, foi impedido pelo diretor do presídio de se matricular. Fez a prova no ano seguinte, passando novamente – desta vez, ele mesmo optou por não realizar a matrícula. Queria focar no corre da música quando deixasse a cadeia. 

Segundo Di Juan, suas participações nas composições costumam emocionar em especial as famílias dos detentos – pois estas, assim como o próprio Juan Gerson, não vivenciaram uma trajetória no crime. Levava sua mãe consigo no coração quando colocava para fora seus sentimentos em forma de música. Pikiel, que é pai, tinha o filho como inspiração e, segundo o amigo, é responsável pelos trechos que “pegam mais o homem, tá ligado?” Juan não se recorda do número exato de canções compostas por ele e Pikiel dentro da cadeia, mas foram mais de uma dezena. Tempo houve de sobra.

Juan foi preso junto de mais de vinte homens, todos residentes do Morro da Mariquinha. Uma investigação baseada em fotografias de becos da comunidade e trocas de mensagens foi o motivo dos mandados. Juan não foi preso com qualquer material ilícito na manhã da operação e não foi flagrado com drogas ou armas nas imagens e incursões policiais que baseiam o processo. Ele também não integrava o grupo de Whatsapp apontado pelo Ministério Público (MPSC) como sendo de membros da facção denunciada. Três armas e porções de drogas apreendidas no morro na manhã da operação – em sua maioria em região de mata – acabaram sendo indicadas como pertencentes, de maneira generalizada, a todos os mais de vinte acusados.

Enquanto Juan esteve preso, sua defesa alegava continuamente que não havia provas que o ligassem às alegações do Ministério Público. O MPSC rebatia a defesa e pediu a manutenção de sua prisão preventiva diversas vezes, por mais de dois anos, sem apresentar nenhuma evidência nova nos autos do processo. 

Música Salva

Não era incomum que Di Juan e Pikiel recorressem à fé. Juan Gerson, testemunha de jeová num passado não tão distante, costumava inclusive pregar no presídio. Lá de dentro, o coração do cria se mantinha ligado à sua quebrada. Quando chegava a notícia de que algum jovem periférico havia morrido nas mãos da polícia de Florianópolis do lado de fora da tranca, Di Juan pregava em sua homenagem.

Mas a dupla de músicos provavelmente nunca se apegou tanto à fé como no dia 11 de outubro de 2021. “Com muita fé iremos aguardar um retorno positivo da Excelentíssima. Desde já somos gratos”, diz o trecho final de um documento direcionado à juíza responsável pela Vara de Execuções Penais. Intitulado Música Salva, o projeto apresentado à Justiça tinha como proposta cumprir a promessa feita por Di Juan em seus primeiros dias longe das ruas: gravar música dentro do presídio.

Versão original do projeto “Música Salva”, desenvolvido dentro do Presídio Masculino de Florianópolis

Escrito a próprio punho, o projeto apresenta a música – em especial aquelas definidas pela dupla como “de motivação e conscientização” – como uma possível ferramenta de ressocialização para detentos. Além disso, é pontuado em mais de uma ocasião que o projeto também poderia auxiliar a sociedade a compreender a realidade vivida por pessoas privadas de liberdade, “pois todas as pessoas que passam pelo sistema carcerário têm chance de mudança e devem ter a oportunidade de demonstrar isso”.

No documento original, para ilustrar o propósito e os possíveis frutos do projeto, está a letra de uma das várias canções compostas pelos músicos na cela: O Sonho Não Morreu.

O arrependimento consome 
Lágrima escorre, não deu pra esconder
Vou seguir lapidando meus traços
Vou cantar pro sonho não morrer

Madrugada fria, coração tão quente
Dentro da cela uma lágrima cai
E até sujeito homem se arrepende
Ouvindo o filho perguntar
“Quando cê volta, pai?”

[…]

Tive que cair pra me levantar
Tive que sofrer pra amadurecer
Liberdade Deus vai conceder

Di Juan e Pikiel levaram mais de um ano para efetivamente convencer a juíza responsável a autorizar que o Música Salva fosse executado dentro do Presídio Masculino de Florianópolis. Neste meio tempo, conseguiram uma pequena grande vitória: levaram dois violões para dentro da cela.

Mesmo com a aprovação da juíza, o projeto ainda precisou passar por autoridades ligadas a outras instâncias do sistema prisional, como o Departamento de Administração Prisional (DEAP), a Secretaria de Segurança e a Diretoria do Presídio. Todas elas aprovaram o Música Salva, num processo que levou quase dois anos. 

Dentro de uma cadeia tudo parece impossível, tudo parece inalcançável. E a minha proposta pro Pikiel foi que a gente fizesse algo impossível”, conta Juan. Um notebook sem internet, um microfone, um fone de ouvido, uma placa de aúdio e um técnico de som seriam as demandas para que o projeto, enfim, saísse do papel.

O Sonho Não Morreu

Data de 15 de agosto de 2023 o documento que revogou a prisão preventiva de Juan Gerson. Àquela altura, o juiz do caso entendeu que não haveria elementos que individualizassem sua conduta – argumento que já era levantado pela defesa de diversos acusados no processo desde o começo do mesmo, mais de dois anos antes. Na decisão, as denúncias do MP foram definidas como “generalizações descabidas”. Às duas horas da tarde, Juan foi colocado em liberdade.

O Ministério Público recorreu da decisão no mesmo dia. Um mês mais tarde, o juiz não acatou o pedido e manteve os réus em liberdade, sendo ainda mais incisivo frente às alegações do MPSC. Foram apontadas, por exemplo, demoras excessivas na realização de perícias por parte da Polícia Científica e laudos periciais inconclusivos ou negativos sendo ignorados pelo MP em detrimento da palavra de policiais militares. 

O juiz apontou que a demora para a conclusão do processo teria culminado em prisões cautelares excessivamente longas, “com risco de absolvições, ao final, por insuficiência de provas” – tratando-se as prisões preventivas de Juan e outros acusados, portanto, de um “verdadeiro ato de constrangimento ilegal”.

Pikiel, que responde a um processo completamente diferente do de Juan, se transferiu para o regime semiaberto pouco tempo depois que seu parceiro musical voltou à Mariquinha. Como as autorizações conseguidas para a execução do Música Salva só valiam para o regime fechado, o projeto acabou ficando parado.

Mas a pausa no projeto não significa necessariamente o seu fim. Desde o começo, Pikiel e Di Juan sempre pensaram do que seria de seu projeto quando saíssem da cadeia. “A gente pensou em fazer o Fábrica de MCs do Música Salva”, conta Juan. A ideia seria capacitar detentos através da música, contribuindo para sua formação e podendo servir como uma possível ferramenta de remissão de pena. Além disso, eles também têm a intenção de trabalhar a formação de novos artistas com crianças e adolescentes das comunidades.

Não tem ninguém mostrando o caminho. Não é fácil, mas tu tem um caminho”, conta Di Juan se referindo à carreira de artista periférico independente. Longe do presídio há dois anos, segue aguardando seu julgamento na confiança de que nunca mais voltará para trás das grades – lugar onde ficou tempo demais para um homem nunca sentenciado por crime algum em seus mais de 30 anos de vida.

O sonho não morreu. Mas para que o projeto funcione fora do presídio, é necessário, antes, que seus precursores se estabeleçam do lado de fora. 

Uma nova Mariquinha

Provavelmente nenhuma comunidade de Florianópolis mudou tanto de visual quanto a Mariquinha entre os anos de 2020 e 2022. Naquela época, um projeto executado pelo Cidades Invisíveis transformou o Morro da Mariquinha na maior galeria de arte a céu aberto do Sul do país, e um ponto turístico requisitado da Ilha da Magia. Juan participou do começo do processo, mas foi preso logo em seguida. Se espantou ao, dois anos depois, encontrar sua comunidade toda colorida ao retornar.

Os graffitis da Mariquinha contam muito da história daquele lugar. Ocupado no começo do século XX e batizado em homenagem a uma de suas fundadoras, o morro sempre teve nas mulheres a força para seguir adiante. Dona Rosa, uma das principais matriarcas da história da comunidade, foi pintada em frente à bica que servia às lavadeiras que deram origem ao morro. 

As donas Isabel, Setembrina e Dinha têm suas imagens estampadas em uma das entradas da comunidade. Dona Mariquinha é lembrada todos os dias por quem passa por ali: o maior dos graffitis do local estampa o nome da comunidade e, por consequência, o seu. Ainda há uma série de obras com referências ao hip-hop, ao funk, ao samba, à negritude e à potência dos crias da favela.

Mas aquele foi um período em que a Mariquinha também sangrou. Pouco antes da liberdade de Juan, uma das obras de graffiti da comunidade passou a homenagear Rafael, morador do morro. Morto pela polícia em maio de 2023 numa noite de baile funk, o homem negro é retratado em seu mural de óculos escuros e camisa do Flamengo. 

Algumas dezenas de metros acima, um mural azul que retrata um jovem grafitando ganhou três grandes pontos cinzas em dezembro daquele mesmo ano. Valter foi mais um morador da Mariquinha morto pela PM, pouco antes do Natal de 2023. As três marcas redondas no graffiti azul são prova viva dos tiros de fuzil que tiraram sua vida. Sua família, que nunca teve acesso a seu laudo de morte, relata que a vítima teria sido atingida pelas costas.

Meses antes, Gustavo Brasil foi mais um cria da Mariquinha cuja vida foi abreviada pela polícia. O adolescente negro de 17 anos foi morto na cidade de São José em setembro de 2023, numa operação onde as câmeras corporais da guarnição envolvida encontravam-se desligadas. Ao menos doze tiros foram disparados contra Gago, como o jovem era conhecido. 

Um novo Juan

Para Juan, o primeiro ano fora das grades passou no automático. “É muito difícil depois da cadeia, às vezes eu ainda me sinto preso”. Entorpecido pelos traumas do cárcere, não se recordava de já estar em liberdade quando Valter e Gustavo perderam a vida para o Estado. 

Conseguiu recolher os cacos e, no final de novembro de 2024, teve um encontro que mudou sua vida. Ao andar pelo morro com o violão nas mãos, viu-se cantando para a mãe de Gustavo numa tarde de quarta-feira.

Vida bandida não vale a pena
Lembro do Gago dentro de um caixão
Sua mãe chora lembrando da cena
Pensa que foi culpa da criação

Mas não foi não
Pensa qual menor
Que não quer ter uma nave zero
E morar dentro da mansão?

Juan não chegou a conviver com Gago. Suas lembranças do garoto no morro resumem-se a ele tomando Toddynho com os amigos. Mas a emoção da mãe enlutada ao ouvir suas palavras foi o combustível que Di Juan precisava para voltar a focar no corre da música. “Acho que foi uma mãe de um outro filho e um filho de outra mãe que se encontraram pra se abraçar e lutar pela favela”. O sonho não tinha morrido.

Um evento cultural no próprio Morro da Mariquinha, em 28 de dezembro, marcou a volta oficial do cria aos palcos. Na base da voz, do violão e do coração, apresentou “O Sonho Não Morreu” e “Tempo”, ambas resultado do processo que culminou com a criação do projeto elaborado na prisão. Ele usava uma camisa em homenagem a Gago. 

Ovacionado pela comunidade após a apresentação, o músico àquela altura ainda encontrava dificuldades para se estabelecer no mercado de trabalho após deixar o cárcere. Os meses se passaram e, através dos contatos de uma amiga, Juan hoje presta serviços para uma empresa de segurança de eventos. O serviço, aliás, quase fez Juan perder uma segunda apresentação marcante da nova fase de sua carreira.

A camisa que homenageia Gustavo Brasil, o Gago – adolescente negro morto pela PMSC em setembro de 2023. Foto: Warley Alvarenga

Em 16 de maio de 2025, Di Juan foi convidado a se apresentar na principal praça da cidade. Chegou às escadarias da Catedral Metropolitana por volta das 16 horas, na companhia da mãe e do violão. Como de praxe, vestia a camisa com a foto de Gago. Cruzes prateadas no cordão e no brinco eram o símbolo da fé que o acompanhou nos tempos de cárcere.

Caralho, mano, eu tô nervoso demais. Mó responsa”. Naquele momento, estavam reunidas ali mulheres de todo o Brasil. Era o ato que encerrava o Encontro Nacional de Mães e Familiares de Vítimas de Terrorismo do Estado, realizado naquela semana em Florianópolis.

Entre as falas de luta das manifestantes, não demorou até que Juan fosse chamado. A estrutura de som de uma manifestação de rua fez com que um amigo do cantor tivesse que servir como pedestal para seu microfone. Além de familiares de vítimas da polícia, como a mãe de Gago, o grupo ali reunido também contava com mães cujos filhos, assim como Juan, passaram ou estão no sistema prisional. Quando o músico começou a cantar, o choro tomou conta da escadaria.

Juan marcharia junto àquelas mães até o começo da noite, quando teve que partir para mais uma jornada de trabalho. Seu objetivo, no entanto, segue sendo a música. No momento, alinha parcerias para que possa gravar seu primeiro disco desde que saiu do Presídio Masculino. 

Hoje eu tento de todas as maneiras viver. Ao invés de só sonhar, eu tento viver a música. Eu tô recomeçando essa trajetória porque as pessoas mudam. Eu mudei. A minha linha de pensamento de composição, de criação, de público… Eu tô recomeçando tudo do zero novamente”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Veja mais

Papo reto

O Papo Reto é nosso boletim informativo diretamente no seu Whatsapp.

Ele traz um resumo da nossa última notícia de forma rápida e direta para você se manter informado. Você pode escolher receber o resumo em áudio, vídeo ou texto.

Disponível a partir de janeiro de 2025.



Apoie o Desterro

Jornalismo independente e antirracista nas favelas de Floripa

Apoie o Desterro

Jornalismo independente e antirracista nas favelas de Floripa